Pedro é tímido. Tímido de mais. Sua timidez incomoda, é desproporcional, incapacitante até. Filho único cresceu reservado e sem muitos amigos. A mãe, superprotetora, fez sempre questão de mantê-lo isolado dos perigos e perversões do mundo. Pedro só estudou, muito. Formou-se ainda novo, sem nunca ter tido qualquer relação amorosa. Sexual também. Por decisão própria, deixou a casa dos pais e quis ser livre. Não quis não.
Pedro nunca atende ao telefone que toca pouco. Paga todas as contas em dia e por isso não recebe cobranças. Não tem amigos e por isso não conversa com eles. Nunca falta ao trabalho e também nunca o leva para casa. Pedro é assim, só.
Pedro gosta de macarrão. Ensopado, frito, com carne ou legumes. Gosta desses de sêmola ou com ovos. Mas é o Pedro quem faz seu próprio macarrão.
Tem uma diarista que a mãe do Pedro manda toda semana no apartamento que ele nem sente desarrumar. Ela vem duas vezes na semana, eu acho. Pedro não se importa com ela. Nem com ela nem com ninguém.
Pedro assiste a TV e queria assistir só aos cenários, vai ao teatro e queria que não houvesse atores. Pedro anda de ônibus e paga a passagem para aquela caixa pra onde vai o dinheiro, não pro cobrador. Pedro sempre paga para esta caixa. No supermercado, no verdurão, na banca, na padaria, na farmácia, na loja. Pedro não olha para as pessoas. Ele nem as percebe. Às vezes acha que está sozinho. Acha não, tem certeza.
Pedro não bebe. Não em bares, nem em festas. Mesmo porque Pedro não vai a festas, nem a bares. Pedro bebe em casa. Só em casa. Mas fuma em todo lugar. Tem uma menina no trabalho que sempre diz: “O pedro parece uma chaminé! Solta fumaça em vez de soltar palavras”. O Pedro odeia essa menina.
Às vezes Pedro pensa no sentido da vida. Por que trabalhar? Por que dormir, por que sair, por que beber, por que comer, por que saber? Pedro se pergunta. Mas são tantas as perguntas que acaba esquecendo da resposta da primeira, quando já formulou todas. Pedro não é doido. É diferente.
Pedro tem um segredo. O nome do seu segredo é Arlete. A Arlete é a única pessoa com quem Pedro se importa. E Pedro não liga se as pessoas sabem ou não, mas liga se o perguntam. Por isso Pedro encontra pouco com Arlete, porque muito também enjoa. Igual enjoou da mãe. Parece que a Arlete entende o Pedro. Foi com ela que Pedro transou. Várias vezes. Pedro sempre transa com Arlete e Pedro fala quando transa. Fala muito. E Arlete gosta e goza quando o Pedro fala. Mas Arlete já não agüenta mais os problemas existenciais do Pedro. Eles se encontram desde os 21. Pedro tem 25. Arlete também. Mas ela queria sair. Se divertir, viajar, casar. O Pedro não. O Pedro quer nada. O Pedro nem quer viver. A Arlete cansou. Cansou do Pedro.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
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