quinta-feira, 4 de junho de 2009

Do acaso

Acontece que me acometeu um encontro planejado pelo acaso – e ele terá participação ativa na história, explicado por ele próprio ou por qualquer outra coisa dessas que ainda não sei explicar.

Estava num desses momento de quase esvaziamento da mente, pensando em coisas que não lembro, quando me chamou a atenção um tipo de mulher que procuro, por puro descaso e ingenuidade, descartar. O acaso a fez me parecer especial. Talvez pelo rosto angelical, o nariz fino, as roupas sofisticadas mas discretas, o cabelo escorrido, escuro, reluzindo através do poste.

A mente já não estava mais vazia, quando um casal, desses que sabemos não ser um casal sexual, se aproximou para a mesma função que propusemos – individualmente – eu e a elegante moça da frente.

Ela já me havia sido apresentada e por ela já me havia apaixonado de alguma forma. Ela não sabia. E nem haveria de saber. O certo foi que o encantamento não aconteceu pela apresentação antiga, mas pelo que senti que viria.

Ele, como me seduz nos rapazes, apresentou-se, assim sem dizer o nome, com piadas infames. 

Deixei a caso do acaso.

Esperávamos, os quatro, como um faminto por um sanduíche ou uma antiga criança pelo natal. A espera é sempre aterradora. Remexe os sentimentos. E para amenizar a espera, nos pomos a falar deles mesmos: dos sentimentos. Acabei falando  da vida e das aventuras pelas quais, eu mesmo como sou, me impus nos últimos tempos. Sem menos compartilhar, ele e elas disseram de onde vinham, porque, por onde iriam, e me acalmaram e eu os acalmei. E fui me encantando, na dor da espera, por pessoas de sentimentos honestos.

Por culpa daquele que já mencionei, fomos identificando semelhanças, pontos em comun. Fomos compartilhando ideias e rindo das mesmas coisas. No ponto alto da espera, unimos corpos e intenções. Estávamos preparados para conhecer um quinto sentimento.

Não sobrou tempo para perguntar se haviam sido, os quatro jovens amigos, apresentados  àquela moça sentada a nossa frente. Me calei e conheci Simone de Beavoir.

Tivemos uma intensa conversa. Me livrei dos pensamentos anteriores, dos sentimentos que havia conhecido. Me entreguei àquela ingenuidade inata. Chorei. E não pude encostar um lábio no outro, por vezes. Refleti sobre o pouco que vivi, o pouco que conheci, que andei, que comi, que falei, que transei, que li.

 Por fim, senti cheio o coração e recebi, das quatro pessoas que conheci numa fila, abraços como de  grandes amigos. Mesmo que feitos ao acaso.

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